#27 DEVÍAMOS APRENDER MAIS COM A AGRICULTURA

#27 DEVÍAMOS APRENDER MAIS COM A AGRICULTURA

Tentamos sempre controlar o curso dos acontecimentos e somos, sempre, surpreendidos com a verdade indiscutível de que não controlamos nada. 

Há desafios em trabalhar a comunicação do setor agrícola e alimentar que são únicos e particulares desta área. Por exemplo, imagine que temos um site para desenvolver e queremos captar imagens da colheita. Equipa preparada, viagem organizada, agenda bloqueada, reuniões de preparação, um sem número de tarefas que é preciso agilizar antes de uma sessão. O dia aproxima-se, mas de repente recebemos um telefonema: nada feito, o produto não está em condições de ser colhido. 

O planeamento pode ser pensado até ao mínimo detalhe, mas quando se trabalha com alimentos que nascem da terra, não há folha de Excel capaz de prever as incertezas desta atividade, dependente do clima, das pragas, do solo, da natureza. Esta constante condicionante – que é também a sua extraordinária beleza – esbarra em muitos de nós, urbanos sentados ao computador e habituados a manipular o tempo a nosso bel prazer.

Para quem não está no terreno e convive mais facilmente com produtos frescos nas prateleiras do supermercado, não é fácil lidar com este nível de incerteza. Afinal, há uvas fora de época à disposição, os morangos estão sempre brilhantes e os pêssegos chegam mais depressa. Mas a questão até é mais funda. Num mundo em que somos todos obcecados pelo controlo da realidade, dos acontecimentos, dos outros – e achamos mesmo que somos os donos do planeta – aceitar que a natureza tem o seu curso, ritmo e sabedoria própria é muito difícil. Tentamos sempre controlar o curso dos acontecimentos e somos, sempre, surpreendidos com a verdade indiscutível de que não controlamos nada. 

Fazer comunicação do setor agroalimentar é lidar todos os dias com avanços e recuos. Não podemos apressar a sazonalidade, o estado do tempo e a qualidade do produto. Já tivemos várias vezes de cancelar visitas ao campo, eventos e outras atividades porque, no final do dia, quem manda é a natureza. E se tudo parece correr de feição, de um dia para o outro tudo muda. Já nem falo dos casos em que o trabalho de toda uma época acaba com uma tempestade ou seca extrema. Para os agricultores, os desafios são muito maiores do que reagendar uma simples sessão de fotografias e vídeo. É um trabalho que, todos os dias, nos dá uma enorme lição de humildade. 

Devíamos aprender mais com a agricultura

Ana Rute Silva
Partner da Agência Evaristo
anarute@agenciaevaristo.pt

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