#40 COMUNICAR EM TEMPO DE ALTOS CUSTOS E QUEBRA DE PRODUÇÃO

#40 COMUNICAR EM TEMPO DE ALTOS CUSTOS E QUEBRA DE PRODUÇÃO

A comunicação tem o grande dom de impulsionar empatia pelo outro. De criar laços invisíveis e energia criadora. Veja-se o bom exemplo da campanha “Se eu não produzir, tu não comes”, lançada em Espanha no Dia Mundial da Alimentação.

No Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro, foi colocada uma lona publicitária no centro de Madrid muito diferente das habituais. “Se eu não produzir, tu não comes”, lê-se no anúncio, onde um produtor segura um cesto e olha para a objetiva com o sorriso estampado no rosto. A iniciativa das Cooperativas Agro-alimentares de Espanha e da Agrifood Comunicación pretende chamar a atenção para a importância da atividade dos agricultores, pescadores, indústria transformadora, distribuição e restauração, sem os quais seria impossível fazer chegar alimentos a toda a população.

Tal como cá, esta grande e complexa cadeia alimentar tem continuado a funcionar apesar de todas as intempéries e dificuldades. Mas a sociedade em geral e a opinião pública não me parece ser sensível a este esforço e, muito menos, o valoriza. Não é nada de novo ou estranho. Enquanto não vivermos o cenário drástico de escassez de comida nas prateleiras nem todos darão importância a todas as peças-chave que estão envolvidas neste processo. É por isso que esta campanha me fez pensar. Não só coloca a tónica, sem exceção, em todos os agricultores – grandes ou pequenos, convencionais ou biológicos – como conta com o apoio de 29 empresas. Tem ainda associada uma campanha de crowdfunding (financiamento colaborativo, em que qualquer pessoa pode doar), cujos fundos servirão para alimentar a comunicação e explicar – sobretudo aos meios urbanos – a complexidade da tarefa de produzir. A ideia é demonstrar o valor dos produtores de alimentos e o seu contributo para a sustentabilidade social, económica e ambiental.

O setor enfrenta desafios significativos. Vivemos tempos de custos elevados e de quebra de produção, falta de mão de obra e de matéria prima. E, ao mesmo tempo, uma crise de reputação que chega através de críticas contínuas aos agricultores, muitas baseadas em informação pouco rigorosa. Em Madrid, onde estive recentemente a visitar a Fruit Attraction em trabalho para a Portugal Fresh, pude ouvir as empresas e a preocupação é partilhada. Juntando o contexto às regulamentações e normas com requisitos difíceis de alcançar, a quebra de rentabilidade e a falta de água, não se vivem tempos fáceis.

A comunicação é uma atividade complexa e, muitas vezes, difícil de implementar. Mas tem o grande dom de impulsionar empatia pelo outro. De criar laços invisíveis e energia criadora. De unir. À medidas que as condições de mercado mudam, é importante refletir no valor das empresas e da sua marca, mesmo que seja pessoal. Manter a transparência com os clientes e consumidores sobre os desafios que enfrentam, procurar formas criativas de adaptação à crise (e, no processo, inovar!), comunicar os esforços de sustentabilidade e o trabalho que está a ser feito nessa área, contribuem para a diferenciação do produto.

É por isso que campanhas de comunicação são tão importantes para promover o trabalho diário de todos os que nos colocam os alimentos no prato. Grão a grão é possível mudar percepções.

Ana Rute Silva
Partner da Agência Evaristo
anarute@agenciaevaristo.pt

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