#52 OS PORTUGUESES TÊM A COUVE NO CORAÇÃO

#52 OS PORTUGUESES TÊM A COUVE NO CORAÇÃO

Portugal, Países Baixos e Itália destacam-se de forma consistente como os países da Europa onde o consumo de vegetais é o mais elevado. Estarão os produtores do setor a agarrar esta oportunidade? 

Na lista de países da Europa onde mais se consomem brássicas (couves, brócolos e afins), Portugal ocupa um orgulhoso terceiro lugar, logo a seguir aos Países Baixos e à Itália. Alargando a lista para os restantes vegetais, como abóbora, curgete, pepino, entre outros, destacamo-nos no segundo lugar deste saudável pódio, o que nos dá algum alento no meio de tantas outras estatísticas com sabor menos agradável. 

Segundo a Statista, as projeções de 2024 indicam que o consumo per capita de couves e brássicas é de 8,6 quilos, uma quantidade que se manteve em 2023. Para 2025, prevê-se um ligeiro aumento para 8,7 quilos – que pode chegar aos 8,9 quilos em 2029. Nos restantes legumes, o consumo atingiu os 42,8 quilos por habitante em 2024 e as projeções são de aumento contínuo até 2029 (44,7 quilos). 

Os portugueses sempre gostaram das suas couves, produzidas um pouco por todo o país por gerações de agricultores que têm mantido vivo este verdadeiro património nacional. São protagonistas da nossa gastronomia, verdadeiro tesouro preservado pelas nossas avós e mães – e esperemos – assim o serão pelos nossos filhos. A paixão pelos restantes legumes também é assumida e conhecida: no prato dos portugueses há quase sempre um verde presente. 

Os indicadores da Statista mostram-nos ainda como o comportamento do consumidor está assumidamente focado em comer bem – 70% dos inquiridos em Portugal declaram tentar comer saudável de forma ativa e 42% evita consumir produtos com corantes ou aditivos artificiais. 

É preciso sublinhar que este não é o retrato do consumidor médio na União Europeia, onde menos de 15% da população come 5 ou menos porções de fruta e legumes por dia e 33% nem sequer chega a comer 1 porção. Também faço já a ressalva que, embora tenhamos a couve no coração, este não é um amor suficientemente forte para manter uma relação para a vida, pois em Portugal há 2,2 milhões de adultos e 107 mil crianças e adolescentes obesos, segundo dados da revista The Lancet divulgados em março do ano passado. 

Mas o que quero argumentar é que estas duas faces da mesma moeda são oportunidades por explorar. Por um lado, temos tradição e o hábito de consumir legumes de forma regular, por outro, há toda uma geração que não prescinde de doses elevadas de açúcar e gordura na sua dieta. Os produtores de frutas e legumes são os primeiros interessados em intervir.  

Erguer a bandeira do consumo de vegetais é um ato de interesse cívico que faz bem a todos. E as empresas têm um imenso poder nas mãos, sobretudo quando a sua missão é produzir e colocar alimentos frescos e imprescindíveis no nosso carrinho de compras. Por que não podem os produtores liderar campanhas que promovam os benefícios dos vegetais e fortaleçam a ligação com os consumidores? Não falo das campanhas de promoção habituais, refiro-me a estratégia e a colocar esta missão no centro de todas as decisões do negócio. 

Esta visão integrada implica apostar em inovação e parcerias, procurar novas formas de estimular o consumo com novos produtos, investir em comunicação estratégica e envolvente que vá além da divulgação de informações nutricionais e se ligue de forma emocional aos consumidores. Criar identidades visuais apelativas, modernas e vibrantes, produzir conteúdos educativos e desmistificar ideias feitas – como a de que os vegetais são aborrecidos – ampliar a mensagem e chegar aos mais jovens. Abraçar a causa, lançar movimentos e contar a história do produto.  

O potencial é imenso. E os produtores têm a oportunidade de transformar os consumidores nos defensores da sua causa. Partimos de uma base riquíssima. Temos a gastronomia e o património cultural do nosso lado, a tradição na mesa e no campo. É preciso dar o salto e festejar os bons números, criar verdadeiros grupos de fãs das brássicas e dos vegetais, uma espécie de “irmandade dos vegetais”, dinamizada por quem os produz. Estarei a pedir demais? 

Ana Rute Silva
Partner Agência Evaristo
anarute@agenciaevaristo.pt

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