#2 CELEBRAR A COMIDA LOCAL
Consumo sustentável, próximo e ligado às origens dita cada vez mais as escolhas dos consumidores.
Há um discreto festival a decorrer no Algarve que nos faz proferir nomes desconhecidos. Celebra a comida esquecida, aquela que os nossos avós e bisavós usavam para alimentar a família recorrendo à imaginação, tantas vezes forçada pela pobreza e pela escassez. Neste festival, que termina a 30 de maio e inclui vários eventos (podem saber mais em comidaesquecida.com), os protagonistas são as catacuzes, o pau roxo ou os chícharos, personagens desaparecidos do nosso léxico apressado, do campo e das prateleiras dos supermercados.
As catacuzes misturadas com grão dão uma sopa que promete a acalmar o estômago. São plantas que crescem espontaneamente, também conhecidas como labaças ou espinafre limão. Já o pau roxo não é mais do que uma cenoura roxa, a cor original deste legume. Os chícharos começam a ser reconhecidos aos poucos, também porque em Alvaiázere, distrito de Leiria, se faz um festival em nome desta leguminosa semelhante a um tremoço.
Celebrar a comida esquecida é um ato de proteção do património e este festival, tal como todos os que por todo o país celebram o alimento – da castanha à sopa, do porco ao pinhão – são fundamentais para não deixar cair esta memória e aproximar gerações. São, também, ferramentas de atração à terra e às origens.
Nos últimos anos, a ligação dos consumidores ao produto e ao produtor tem caminhado de forma silenciosa mas firme, muito graças às redes sociais, com a partilha de fotografias, ideias e projetos. Há uma enorme comunidade de apreciadores destas histórias sobre comida, sobretudo, a comida esquecida e os seus produtores, especialistas raros no modo de fazer e produzir. É um claro sinal de que já não basta ter produto disponível a qualquer hora e com toda a conveniência, é preciso saber de onde vem e como é feito.
Depois da era da personalização, em que o consumidor procurava um fato à medida, chegou, assim, a era das causas e da consciência clara do impacto diário das nossas opções em tudo o que nos rodeia. E, embora o preço continue a ditar as escolhas, há outros atributos a conquistar espaço. A comida esquecida passa a estar no radar. O modo de produção não é assim tão indiferente. O consumo local e a redução do desperdício ditam as regras.
Em 2020 iremos assistir a esforços cada vez maiores por parte das marcas e dos retalhistas na procura de produtos que satisfaçam as preferências dos consumidores. A oportunidade para os produtores nacionais é, por isso, imensa.
Ana Rute Silva
anarute@agenciaevaristo.pt
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