#18 DAR ROSTO AO PRODUTO

#18 DAR ROSTO AO PRODUTO

Há produtos com marca, outros sem marca, confundidos num mundo a preto e branco e embalagens padronizadas. E quando a comunicação não vai muito além de um site, a distância entre quem compra e quem produz, torna-se ainda mais profunda.

A tendência não é nova, mas está a demorar a fazer caminho na produção agrícola de larga escala. Quando compramos produtos frescos, pouco ou nada sabemos sobre o agricultor que o produziu. No rótulo surge a informação habitual: nome do produtor, morada, algum meio de contacto, o nome do produto, variedade, origem, peso, calibre, lote, entre outros. Para saber mais sobre a empresa, o consumidor tem de ter algum trabalho extra e procurar. 

Há produtos com marca, outros sem marca, confundidos num mundo a preto e branco e embalagens padronizadas. E quando a comunicação fora da embalagem não vai muito além de um site, a distância entre quem compra e quem produz, torna-se ainda mais profunda.

A holandesa Eosta importa, exporta, embala e distribui produtos frescos bio para todo o mundo e coloca o rosto dos seus produtores no packaging, reforçando a comunicação com o slogan “Meet Our Growers”. O produto tem um código que corresponde ao produtor e no site é possível inserir esse código e conhecer melhor a história de quem produziu o produto. Uma comunicação personalizada e humanizada.

Embora o resultado deste tipo de iniciativas dependa sempre de algum investimento por parte do consumidor – porque terá de ter curiosidade e passar o telefone no código barras (e muitas vezes quer apenas, e só, comprar fruta sem se preocupar de onde vem) – esta é uma forma mais direta de fazer chegar a informação. 

E é inegável de que, conseguir contar a história, traz vantagens comerciais. Porque um produto nunca é apenas uma commodity, tem um rasto, um percurso e toda uma vasta cadeia de produção por detrás que pode deixar de ser invisível para o grande público. Deixando de ser mercadoria, ganha valor. 

Além da personalização, é hoje fundamental mostrar aos consumidores que a produção agrícola é feita de forma ambientalmente responsável. Regresso mais uma vez ao exemplo da Eosta que contabiliza, em tempo real, o impacto positivo das suas frutas e legumes no ambiente: volume de água poupada, emissões de CO2 ou solo preservado. 

Muitas vezes a informação está disponível nas empresas, mas permanece para consumo interno, sem ser partilhada. Informação é poder: e de nada vale ter possa de dados que podem mudar a perceção da comunidade sem os partilhar. 

Não será tempo de abrir as portas?

Ana Rute Silva
Partner da agência Evaristo
anarute@agenciaevaristo.pt

Artigo publicado na revista Frutas Legumes e Flores

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