#24 HAVERÁ SEMPRE ESPAÇO PARA A (RE)INVENÇÃO DOS NEGÓCIOS, DAS MARCAS: O CASO DOS PASTÉIS DE NATA

#24 HAVERÁ SEMPRE ESPAÇO PARA A (RE)INVENÇÃO DOS NEGÓCIOS, DAS MARCAS: O CASO DOS PASTÉIS DE NATA

Refletindo sobre a Manteigaria, verificamos que se posicionou enquanto conceito oposto, abriu portas e, das vitrinas da suas cozinhas, assistimos à confeção dos seus pastéis de nata de forma transparente, despertando em nós a curiosidade, a sensação de proximidade e… o apetite! Não é esta uma tendência? A procura por marcas transparentes que partilham os seus “segredos”?

Há dias li nas gordas de um artigo: “A Manteigaria chega a Belém com pastéis de nata artesanais”. Para quem não conhece a Manteigaria é uma marca portuguesa, criada em 2014, que assenta o seu negócio no fabrico de pastéis de nata tradicionais. Ficam a saber também que são os meus favoritos! Tomei-lhes o gosto quando, ainda no antigo escritório na Praça Luís de Camões, no Chiado em Lisboa, sentia da janela da minha sala um cheirinho irresistível e, logo de seguida, ouvia o sino que anunciava mais uma fornada acabadinha de fazer – hábito que já faz parte da cultura da marca. 

Mais tarde, fui acompanhando a sua evolução, a sua implementação em várias zonas da cidade. Um conceito inovador que para além de fazer as delícias dos apaixonados por pastéis de nata, proporciona ainda uma experiência, os clientes podem assistir a todo o processo de fabrico, já que a cozinha está visível ao público. Também este posicionamento me despertou a atenção. Quem nunca ouviu falar do secretismo à volta dos ingredientes dos pastéis de Belém? 

A história dos pasteis de nata remonta a 1837, quando os monges dos Mosteiro dos Jerónimos tentam fazer subsistir a ordem e começam a vender pastéis de nata, numa pequena pastelaria contígua ao mosteiro. Da sua história fala-se também de uma confeitaria familiar que, há cerca de quatro gerações, preserva um segredo com mais de 180 anos, uma receita que se recusa a partilhar ou internacionalizar. Partilhando a receita ou não, a verdade é que o pastel de nata se tornou o doce embaixador de Portugal no mundo.  Refletindo sobre a Manteigaria, verificamos que se posicionou enquanto conceito oposto, abriu portas e, das vitrinas da suas cozinhas, assistimos à confeção dos seus pastéis de nata de forma transparente, despertando em nós a curiosidade, a sensação de proximidade e… o apetite! Não é esta uma tendência? A procura por marcas transparentes que partilham os seus “segredos”? Esta parece-me ser uma aposta ganha, tendo presente que a marca já totaliza sete estabelecimentos no País, contando já com a sua mais recente loja em Belém. Sim, em Belém, no coração dos “originais” pastéis de Belém. Haverá quem veja esta abertura como uma “afronta”, um insucesso à partida, eu vejo-a como uma estratégia de marketing assente numa concorrência positiva: como não estar presente fisicamente no “berço” dos melhores pastéis de nata do País? É estratégico? Sim! É reflexo de uma visão de negócio maior, de conjunto. É perceber que juntos somos mais fortes e consolidamos perceções de território e de país de forma partilhada. É para mim, perpetuar Belém como a origem dos melhores pasteis de nata do mundo.

Quis o COVID que o teletrabalho tenha vindo para ficar, senão completamente, parcialmente, mas uma coisa é certa, da próxima vez que for a Lisboa, irei a Belém comer o meu pastel de Nata preferido!

Gisela Pires
Partner da Evaristo
gisela@agenciaevaristo.pt

Artigo publicado na revista Frutas Legumes e Flores, edição de março 2022

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